domingo, 26 de junho de 2011

O VENTO

                  O VENTO


Enquanto o vento batia de encontro às janelas, sentia a saudade dos velhos tempos.
         Era noite fria de inverno, uma bela festa acontecia num grande salão onde eu estava; risos se ouviam junto com o som da música eletrônica, suas batidas ritmadas e pulsantes remoíam o fundo de um coração solitário que relutava em lucidez diante de tanta parafernália.
         Ao enxugar as lágrimas que rolavam pela face sofrida, na esperança de uma resposta escondida ao longo dos anos, senti a respiração ofegante, em meio ao mundo de sons e vozes que ouvia. Ninguém percebera minha súplica que clamava por um olhar de reconhecimento e carinho. Sozinho, ali sentado no jardim do grande salão, observava a felicidade que teimava em desfilar diante de meus olhos; mas somente um reflexo no espelho era tudo que conseguia ser naquele momento. Meu ser interior desejava ser vívido e juvenil.
         De repente, um forte sentimento surgiu no ar, meus pensamentos se voltaram como que instantaneamente do arrepio ao sofrível vislumbre da lua; o vento cortado pelos fios de alta tensão fazia-se ouvir.
         Caminhando agora pelo jardim, longe de todo aquele barulho ensurdecedor, nada faria com que voltasse àquele lugar em que a alegria era irradiante.
         A simplicidade se tornara óbvia demais para alguém que não desejava mais do que um pardal precisaria para voar: o espaço, o tempo e asas de liberdade. O rumo parecia incerto, mas preciso.
         A noite resistia aos primeiros raios de sol, como se lutasse para manter a sobriedade e o cansaço de um dia mal dormido; os passos apressados agora tinham um objetivo. A visão territorial do alto de um edifício lhe passava a segurança de que ninguém o perturbaria. Enquanto se equilibrava por entre os cordéis, as imagens invólucras de seu coração rodeavam sua mente na tentativa desesperadora de um alento. A garrafa grudada em sua mão fazia o papel da companheira. “Quantas noites sofridas e sozinhas passei” – pensava ele num momento de lucidez.
         Não se conseguia mais separar suas lágrimas, seu rosto não resplandecia, um sóbrio vento lateral não contendeu com a cena e nas asas da liberdade entre o tempo e o espaço, o deixou. Num instante, tudo se apagou da memória, aquele que um dia buscara a cura de suas feridas, se esvaía; a alma que abandonada pela vida, se ia.
         Um dia, a lembrança que demorou a chegar com o vento que batia de encontro às janelas, não mais se fez notar.
Por Paulo Figueiredo

Quantas lágrimas terei que derramar
Até aprender a razão completa
De minha existência?

A vida que se esvai, ainda luta
Pelo brilho do teu olhar cheio de ternura
Que o tempo terá que enxugar.

Quantos dias terei de contar
No completo abandono
De minha alma?

Rios correrão para o mar
Levando as lágrimas do teu olhar
Ao encontro das minhas.

A resulta dessa união moverá as nuvens do céu
Que no sopro da chuva
Cairão como gotas de mel.
Por Paulo Figueiredo

Nenhum comentário:

Postar um comentário