segunda-feira, 27 de junho de 2011

DIET SHOCK

DIET SHOCK

          “Penso, logo êxito”. “Como, logo engordo”. Vai começar o vale-tudo do verão.
          Já notaram que está cada vez mais difícil caminhar no calçadão sem cruzar com uma gordinha sacrificando o passeio público? O que dirá encontrar vaga nos estacionamentos das academias? Ou, o que é pior ainda, vaga nas agendas das clinicas especializadas em tratamentos milagrosos de combate a celulite e outras coisas mais. Este movimento e nome e sobrenome: “movimento dos sem banha”, ou simplesmente, “MSB”.
          A estação dos corpos nus está chegando e com ela, a preocupação com a maldita celulite e o corpo sarado. É a versão malvada da fábula da cigarra e da formiga: quem poupou o ano inteiro, comeu, comeu, agora precisa correr atrás do prejuízo, e que prejuízo, diria eu.
          Sai gordura que este corpinho não te pertence! Numa sociedade que abunda a aparência em detrimento do cérebro, vivemos num regime cercado de medo em que o criminoso é o gordo – em outras épocas era o mordomo – o castigo é a exclusão umbilical.
          Ser gordo é fazer parte do cinturão globalizado – desculpem a comparação, mas não resisti – que vai desde ser ponto de referências, a pagar mico em lojas de roupas da moda. O que engorda é o corpo e não a mente, ela sempre irá imaginar-se com menos peso do que realmente tem, como se olhasse através de um espelho côncavo.
          No passado o espartilho fazia as vezes da cirurgia, sufocando as formas arredondadas e deixando aquela cinturinha incrivelmente fininha, como a da aprendiz de atriz e cantora mexicana que tirou uma costela. Hoje as cirurgias se tornaram tão banais que já atendem pelo apelido familiar de “lipo”.  O melhor e mais engraçado mesmo são as dietas. Você encontra nas bancas de jornal, nos programas de tv, nas rodas de amigas gordinhas e até nos rodízios de massas; claro após a degustação. Tem a dieta da lua, da luz, south beach, dos chás, seca gordura, líquida, dos sucos, dieta verde, amarela, a cor que você quiser. Todos vendem facilidade e sucesso, o pior é que os gordos e gordas – retórica da lei que tramita no congresso, que reza que toda referência a palavras masculinas deva vir acompanhada do feminino. Seria feminino uma palavra masculina? – acreditam.
          Tenho um amigo que resolveu ajudar a esposa a emagrecer. Depois de gastar fortunas com dietas mágicas e clínicas papa-tudo, descobriu uma receita infalível e que seria de graça, ou melhor, ainda lhe renderia o sossego e uma economia extra. Chamou alguns amigos e planejou a dieta. Consistia em um seqüestro. O plano era deixar a mulher durante dois meses num cativeiro a pão e água. Com isso em mente o plano foi posto em execução. Eles chegaram de madrugada e simularam um assalto, após pegar somente pertences da vítima, disseram que a levariam também. A mulher ficou desesperada e começou a gritar. Seu marido que dormia no quarto, nem se movia, mantinha-se num sono profundo. Ela desesperada correu até o quarto e deu um pulo em cima da cama que caiu com ele ao chão – ela pesava mais de cento e quarenta quilos. Acordado finalmente fez que não sabia de nada, perguntou a ela se aquilo era hora de fazer ginástica. Ao ser informado de que se tratava de um assalto, demonstrou-se surpreso e com medo como um ator amador de novelas.
          Os amigos seqüestradores logo insistiram em levá-la como refém com o que ele concordou prontamente:
          - você não vai me defender? – falou ela.
          - eu? – retrucou – você dá dois de mim, porque não encara sozinha?
          Essas palavras soaram forte demais, nunca provoque uma gordinha. Ela desceu o braço, foi um verdadeiro “pega pra capar”. A vizinhança nessa altura, já estava “de butuca” na janela, imaginando ser mais uma briga do casal. Os amigos do marido que achavam que seria tarefa fácil, estavam mais que amedrontados, a casa fora quase toda quebrada. “O pau comia solto na casa de noca”. Quando a dona redonda deu uma aliviada, a galera correu em direção da janela e pulou do jeito que deu, não importava onde iriam cair nem mesmo como. Ela ainda tinha muita disposição e partiu atrás deles, quando abriu a porta e chegou ao portão, eles haviam “dado no pé”. Aliviada, sentou-se no chão e começou a gargalhar. A vizinhança que já estava na rua se aproximou; todo mundo queria saber o que estava acontecendo. O que mais impressionava é que a mulher não parava de gargalhar, ria, ria, feita uma louca à beira de ser internada. O pessoal se perguntava e imaginava ser o nervosismo natural; passou-se um tempo e a dona gorda – carinhosamente – se acalma; após recobrar as forças ela diz que foi vítima de um sequestro. Espantada, a vizinhança pergunta:
          - A senhora acha isso muito engraçado?
          - Não, não é disso que estou rindo, é que a seqüestrada seria eu e eles levaram foi o paria do meu marido e ainda por cima queriam me colocar num fusquinha!!!
          No final das contas o seu Zé levou o maior prejuízo. Por sorte ela não descobriu tudo.
          Vale lembrar que pior que a perda de um sentido de si mesmo é uma crise de identidade na qual o corpo questiona: se ele é um dos envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem somos nós, servindo de fundamento da identidade ou como conviver com a multiplicidade desconcertante e cambiante das identidades imaginárias, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, tendo como referência corpos com dimensões absolutamente avantajadas.
Bem, isso quer dizer: e agora com que roupa eu vai à praia?
          Antes de tomar veneno ou um moderador de apetite, é preciso ter coragem de abrir o coração, e, todos os dias escolher quem nós de fato queremos ser, que tipo de estilo de vida adotar. Uma atitude difícil de definição de identidades diante de tantas mensagens negativas que o espelho lhe oferece. Mas, é preciso acreditar: bom mesmo é ser você mesmo, cada um à sua maneira.
Por Paulo Figueiredo

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