segunda-feira, 27 de junho de 2011

A LENDA

                                  A LENDA

          As ondas batiam fortemente de encontro aos rochedos. Os recifes encobertos pelas marés se transformavam em um grande perigo para todas as embarcações que se aproximavam da costa. Era uma defesa natural contra invasores e contra aqueles que viessem quebrar a harmonia existente na ilha.
          -vão embora, não queremos mudanças, vivemos a milhares de anos assim. Podia ser ouvido no vai e vem das ondas.
          A força dos desbravadores era mais forte, na luta desesperada o mar saía perdendo, não conseguia dobrar o rumo da nau que cada vez mais se apoderava de seu território.
          A natureza chorava.
          O vento não se conteve e na briga entrou, precisava ajudar o mar que naquela altura perdia terreno. Com fortes rajadas e invertendo seu curso, empurravam a nau para longe. As ondas se tornaram encapeladas e a nau retrocedia. O destino daquela gente se tornava incerto, mas, eles possuíam um trunfo: descendo as velas, atacaram com toda a força de seus braços; com remadas ritmadas e constantes, como uma grande galera, conseguiram equilibrar. O vento não era mais páreo para a nau – a muitos e muitos anos somente o mar com seus recursos submersos, conseguira detê-los – mas agora pressentia o pior.
          O vento mudou sua tática, inverteu o curso novamente e trouxe as nuvens que assistiam de longe imparcialmente à lota desesperada da ilha na tentativa de não se tornar globalizada. Era um espetáculo digno de uma pintura... As nuvens se posicionaram com estratégica elegância, sua força retirou a luz dos navegantes e num esforço concentrado lançou seus raios flamejantes; não houve chance, o estandarte da nau tinha sido atingido. Cambaleante estava à deriva, tombava mais um guerreiro, juntava-se assim a outros derrotados no fundo do mar. Mais uma vez a ilha saíra vitoriosa com a união de todos os seus elementos.
          De repente a nau num último esforço lançara ao mar um pequeno bote com duas criaturas: pequenos inocentes. O mar gentilmente os acolheu, diminuindo suas forças deixou que chegassem até a praia. O tempo sorriu, a ilha aquietou-se permitindo sua aproximação. Nunca pés humanos tocaram suas areias, a própria natureza se compadecia, que mal haveria em serem tão indefesos.
          O tempo, o vento, o mar, as ondas e aqueles que descendiam de seus inimigos, construíram uma grande harmonia, não era mais necessário lutar, podiam conviver pacificamente, cada um respeitando o limite do outro.  
          A natureza humana defere de qualquer outra, com o passar dos anos, a ilha tornou-se pequena. Contendas surgiram, os limites não eram mais respeitados. A mistura da terra com a cal nela encontrada embrutecia-se sobre o solo virginal e macio. Arrancada uma a uma até desaparecer completamente as árvores que um dia formavam um lindo tapete e uma barreira contra o calor. A ilha ficou careca. Seu coração fora atingido, arrancado seu minério, fabricavam ferro e aço e tornavam-se cada vez mais forte.
          A ilha havia perdido a batalha; sem perceber seus inimigos naturais apoderaram-se de seu território com o seu consentimento. O mar não se atrevia a avançar mais do que poucos metros da areia, os rios que desaguavam nele traziam cargas tóxicas que destruía tudo que estive a sua volta. Os habitantes marinhos agora estavam sendo atacados e o mar nada podia fazer. O vento também fora atingido com bloqueadores imensos levantados pelos homens, era cortado e sua força perdia-se no ar. As nuvens tentavam lançar seus raios com toda a violência – talvez se lembrando da última vitória – mas era inútil...
          Um grande silêncio que precede o estrondo fez-se ouvir, durante horas o panorama não havia mudado, mas, algo estava prestes a acontecer, de repente, ouviu-se um gemido que vinha do fundo da ilha, como uma explosão, um último suspiro a ilha soluçou... o tremor e o temor foram grandes, a ilha balbuciava como uma gelatina de um lado para o outro; abriu-se um grande vale no coração da ilha que engoliu todas as suas cidades. A noite se tornou espessa, os vapores de fumaça ao longe se avistavam, não houve resposta, a justiça havia sido imposta. A mãe terra reclamara aquilo que era seu.
          Passaram-se assim muitos anos e tudo fora novamente renovado, ninguém ousava se aproximar de suas areias, pois as lendas contavam, sobre a ilha que engoliu as pessoas.
Por Paulo Figueiredo


                Terra a vista!

São naus, navegantes
Que avisto além mar.
Obscuro destino que agoniza
essa gente.
Não se sabe de onde vêm,
mas precisam navegar.

Uma vista, terra vista!
no caminho dessas ondas
um porto encontrar.
Sabe lá quanto tempo
precisa-se navegar.

Suas vozes, seus gemidos,
não os ouço, não os sinto,
agonizam pela cena:
São as ondas
seu destino a mudar.

Sopra o vento, cede a vela
é preciso navegar.
Por Paulo Figueiredo

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