quarta-feira, 21 de setembro de 2011

RETRATOS DE JANE

RETRATOS DE JANE

          Desvirtuando a luz do sol no solitário despertar, sentia a brisa no meu rosto enquanto limpava meu corpo da areia molhada. Sem forças, ali sentado, imaginava como os povos nômades do deserto caminhavam dias para encontrar água que lhes dava a vida... meu pensamento foi interrompido por um vulto ao longe que se aproximava; ao chegar mais perto vi que era uma linda mulher, parecia um anjo em seu vestido transparente que deixava aparente sua silhueta. Sua estatura era alta e seu corpo, esbelto. A pele morena refletia o sol dos trópicos. Seus olhos azuis da cor do mar espalhavam a luz interior de sua alegria e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.
          Eu havia passado a noite inteira à procura de alguém para conversar. Estava de mal com o mundo, com a vida, não encontrava mais forças para continuar, havia desistido de tudo.
          Ela veio em minha direção e sentou-se ao meu lado, não sabia o que dizer; estava atônito com tanta beleza ao meu redor. Perguntou meu nome e falou da sua vida, da alegria que sentia pela vida. Durante horas, não sei precisar, conversamos sobre muitas coisas. Eu estava encantado, meus olhos penetravam através de seus lindos olhos azuis, meu coração palpitava, todos os meus sentimentos desanimadores haviam desaparecido. Era algo maravilhoso o que sentia ao ouvir sua voz mansa e delicada, como o murmúrio de ondas tranquilas que quebram na areia deixando uma seiva brilhante se dissipando com os raios de sol... não havia me dado conta das horas, o dia havia passado e ali estávamos nós, o universo se compadecendo, a natureza à nossa volta exalando seu perfume... De repente, ela levantando-se com singeleza correu na direção do mar, sem que eu conseguisse evitar, desapareceu em meio as ondas do mar. Fiquei perplexo!!! Tudo parecia mover-se lentamente à minha volta, não queria acreditar que a perdera. A escuridão da noite me envolveu como um rolo de fumaça, meu mundo havia desabado, meu coração estava sangrando... As ondas agora voltavam ao seu ritmo compassado, quebrado apenas pelo leve toque na areia que murmuravam seu nome: “Jane”.

          A luz do farol acendeu, a escuridão fora quebrada por um reflexo; não havia percebido, mas ela deixara cair algo, um cordão com uma medalha onde se lia uma data “21 de abril de 1945”.
          - O que seria isto? Que significava esta data? – Indaguei a mim mesmo.
          Quanto mais eu pensava, mais alucinado ficava; não conseguia esquecer aquele rosto, aquela voz...era bom demais para ser verdade...
          - Espere!!! Foi então que percebi que havia uma figura na outra face da medalha, um escudo com o nome de um clube de natação, eu não conhecia, mas ficara excitado só de pensar que poderia encontrá-la novamente. Entendia agora porque ela nadava tão bem; eu não me atreveria a encarar o mar naquela noite, as ondas estavam encapeladas.
          Deixei aquele lugar com esperanças renovadas, jamais encontrara alguém tão encantador. Conversara comigo sem me recriminar pelo meu modo de ver as coisas. Havia sim, mudado minha vida para melhor, acendido uma chama dentro de mim.
          Na manhã seguinte, voltei para casa, peguei o telefone e liguei para alguns amigos.  O tempo eterno enfim trouxe boas notícias, havia encontrado a informação que tanto procurava. Para minha surpresa, o clube ficava numa cidade distante de onde morava, mas, eu estava entusiasmado, meu desejo de vê-la novamente superaria qualquer obstáculo. Coloquei algumas roupas na mala e parti para a estrada. Não conseguia esconder a ansiedade, ao mesmo tempo, pensava que era apenas uma pista, poderia não conseguir encontrá-la. Eu não queria pensar nesta hipótese, de qualquer forma era tudo que tinha.
          Aqueles momentos que passamos juntos foram os mais incríveis de toda a minha vida.
          Depois de horas na estrada, cheguei a uma cidade no interior de Minas Gerais. Achar o clube foi tarefa fácil. Era uma medalha de competição, louvor ou qualquer coisa semelhante e estava um pouco embaçada e oxidada pelo tempo.
          Um pouco ofegante, cheguei ao clube, dirigi-me à secretaria onde imaginava ser o melhor local para começar minha investigação, sentia-me como Sherlock Holmes, tentando desvendar um grande mistério. Mostrei a medalha a mocinha do balcão que tão gentilmente me atendera, perguntei se ela já tinha visto e se realmente pertencia, ou melhor, fora feita por eles. Ela exitou um pouco, disse que era uma medalha muito bonita e parecia ser de ouro, mas nunca vira nada igual. Uma senhora idosa que aparentava cerca de 80 anos e estava ouvindo nossa conversa, aproximou-se e pediu para olhá-la. Ela abriu um sorriso e eu também; não sabia por que, mas algo me dizia que ela a reconhecera.
          - A senhora já viu uma igual? – perguntei;
          - Há muito tempo não vejo essa medalha – disse ela.
          - Esta medalha foi feita para a comemoração do centenário do clube e dada numa competição interna neste dia aos vencedores.  
          Eu estava encantado com a história, mas, desejava saber se ela realmente poderia me dar à informação sobre quem pertenceria. De repente ela tirou do peito um cordão com uma medalha igual, só que num tom prateado e disse:
          - Veja, esta medalha eu ganhei quando tinha 17 anos numa competição de natação em 1945. Cheguei em segundo lugar; até hoje sinto saudades e por pouco não a venci. Na época era tudo para mim; meu pai era o presidente do clube e ele fez estas medalhas especialmente para o evento, eu era a melhor nadadora da cidade, mas naquele dia surgiu uma jovem muito linda e...
          Antes que ela terminasse a história, eu a interrompi. Não era isso que eu queria saber. Mais uma vez eu perguntei sobre quem pertencia a medalha; na melhor das hipóteses, seria ela avó da pessoa que eu procurava, isso me deixava ainda mais ansioso.
          -Meu filho, como eu ia dizendo, naquele dia uma jovem muito linda apareceu para competir, seus olhos eram como o azul do mar – e que mais tarde viria a ser minha melhor amiga – acabou conquistando o primeiro lugar, e ganhou esta medalha...
          Interrompi novamente e indaguei: - por que seria aquela medalha e não outra?
          - Estas medalhas são únicas, não existem outras, foram feitas apenas três: de ouro, prata e bronze, para as ganhadoras da celebração do centenário. Foi uma competição que envolveu várias etapas e muitas nadadoras durante uma semana.
          Não pude deixar de exibir um sorriso de contentamento, minha primeira investigação e já estava na pista certa. A velha senhora com seus cabelos na cor púrpura, com sua voz cansada, mas suave, parecendo o murmúrio de um riacho de águas tranquilas correndo sobre uma ponte, me deixava cada vez mais assoberbado, mal podia esperar para revê-la e falar com ela novamente.
          - Seu nome era ”Jane” – completou a velha senhora.
          - “Jane” putz!!! – exclamei em alta voz, surpreso com o nome que ela acabara de falar, sem compreender sua entonação e o tempo do verbo que usara.
          - Diga-me onde posso encontrá-la? Gostaria de falar com ela. Conheci uma garota em Cabo Frio e ela deixou cair essa medalha quando foi embora. Eu só sei seu primeiro nome, Jane, e como a senhora disse, também tem os olhos azuis da cor do mar, acredito que deva ser uma neta ou parente dessa pessoa.
          Quando fiz este relato, a velha senhora foi tomada de grande espanto, suas pernas vacilaram naquele momento, amparando-a, pedi à mocinha que estava no balcão que buscasse uma cadeira e um copo d’água com açúcar para ela. Trêmula, sob o efeito ainda do susto, ela me olhou com olhos de ternura, pediu que a descrevesse e relatasse tudo que sabia sobre a tal moça. Sem compreender nada, pois a velha senhora me deixara a sensação de que algo estava errado; a pressa e a ansiedade já não importavam mais, o suspense e o drama tomavam conta do meu coração como nos filmes de Hitcock. Descrevi tudo que lembrava sobre nosso encontro, cada palavra, cada gesto, cada olhar... de repente lembrei de uma palavra à qual não dera muita importância, mas que agora diante do panorama que estava a se desenrolar, fazia algum sentido. Ela havia mencionado algo sobre um farol.
          - O que foi que você disse?  - interrompeu-me a velha senhora que a cada momento me deixava mais atemorizado.
          - Que ela havia mencionado sobre nadar sob a luz de um farol.
          Foi então que me dei conta de que o farol da praia do foguete em Cabo Frio estava desativado há anos. Naquele momento, eu só tinha olhos para ela e nem havia reparado neste fato. Como pude ver então o reflexo da medalha na areia quando a luz incidiu sobre ela? Como havia visto seu último aceno do mar pela luz do farol? Não deveria haver qualquer iluminação não natural naquela praia, eu conhecia aquela praia, era meu refúgio em dias de solidão. Muitas noites dormi sob a luz das estrelas, e essa era a única luz que havia. Mas eu tinha visto, sim, tinha visto o farol em funcionamento, como numa noite de tempestades, quando as embarcações buscam sua luz para se guiar e seguir em porto seguro.
          Agora tomado de pavor, temia pelo que viria a seguir. A Velha senhora colocou sua mão sobre a minha e com gesto de ternura como há muitos anos não sentira, disse-me:
          -Nós éramos muito amigas, eu e Jane. Ela desapareceu ainda muito jovem, quando tentava nadar numa noite em que o mar estava revolto. O corpo dela nunca foi encontrado, ela era muito corajosa, seu maior sonho era ver o oceano e nadar em mar aberto sob a luz de um farol, imaginava a beleza da luz incidindo sobre as águas e deixando a sensação de crepúsculo logo a seguir, era uma experiência que ela queria sentir, o doce e o amargo, a vida e a morte. Era apaixonada pelo mar, apesar da nossa cidade natal estar muito distante dele. Isto aconteceu logo após as competições, o sonho dela se realizaria. Viajamos sozinhas. Pela primeira vez havíamos saído de nossa cidade, fomos a Salvador e ficamos na casa de uns amigos de meu pai durante o verão de 1948. Ela nunca se casou, portanto a descrição que você fez é muito parecida com a dela. Eu nunca me conformei e nestes últimos momentos de minha longa vida tenho pensado muito nela e de como poderia ter evitado sua morte se ao menos tivesse a coragem de ter entrado no mar naquela noite...
          Neste momento eu apertava a mão da velha senhora que espantada e assustada, ficava cada vez mais pálida por tudo que estávamos conversando. O que eu realmente havia visto? Jane era real? Mas como poderia ser ela? Estava morta há mais de 50 anos; estivera ali comigo, havia me consolado, num momento de profunda depressão e sofrimento. Anda sinto seu perfume.
          Agora, havia caído em mim, me dera conta de que a única pessoa que me compreendera, não existia; mas, não poderia ser só a minha imaginação, a medalha estava lá para testificar esse momento. Juntei minhas lágrimas às da velha senhora e houve um silêncio profundo em nossos corações. Após alguns minutos ela levantou-se abruptamente como se tivesse lembrado de algo e levou-me a uma sala onde ficavam guardados, os troféus, as medalhas, as fotografias e recordações da história do clube. Revirou algumas gavetas e com um olhar de satisfação e amor fraternal levou a mão ao peito trazendo bem apertado uma fotografia. Lá estava ela, Jane, junto da velha senhora em fotos muito antigas, algumas em preto e branco. Era possível ver a beleza de seu olhar, eram realmente lindas, agora me referindo a velha senhora. Chorei ao ver as centenas de fotos que ela guardava naquela sala, desejei ter nascido em outra época. Daria tudo por uma máquina do tempo que me levasse ao encontro dela.
          Havia passado por uma grande experiência e uma grande lição de alguém que amava a vida e o mar.
          Depois de horas de conversa, emoções fortes, pavor, suspense e temor, tinha compreendido em parte a razão de tudo isso. Despedi-me da velha senhora, e sabia naquele momento que nos tornaríamos grandes amigos.
          - Ah! Mais uma coisa! – exclamei eu, num último esforço da memória.
          - Ela mencionou mais alguma coisa, que agora me vem a lembrança; que eu deveria devolver a Susan...
          quando olhei para a velha senhora, lágrimas escorriam pelo seu rosto cansado e sofrido; já sabendo a resposta, perguntei espantado:
          - Qual o seu nome?...........
Por Paulo Figueiredo


       No Borbulhar da bruma

Ondas seguem calmamente
como sombras na noite;
mal conseguem perceber seu destino
repetidamente se contentam
em acariciar a areia da praia.
A saudade aperta meu peito,
deitado na areia
no borbulhar da espuma
na bruma do mar.

sopra o vento,
a brisa forte
já cansada de chorar, me consola.
na caída da noite,
na contra mão
do vai e vem das marés,
já não sonho,
hoje faço
da solidão meu viver.
Por Paulo Figueiredo

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

HOJE, EU TIVE UM SONHO.

                     HOJE, EU TIVE UM SONHO.

          Hoje eu acordei com um sentimento de que o tempo havia passado. Tive um sonho muito bom, um sonho daqueles que nos faz sentir jovem ainda. Foi um sinal de que o tempo realmente passou. Quando você se sente saudoso de algo que não fez, algo que não viveu e percebe que dificilmente conseguirá realizar, sua mente envelheceu, seu coração perdeu a esperança e você se tornou um velho chato e rabugento, mesmo que só tenha “vinte e poucos anos”.
          A vida é muito engraçada, às vezes, penso que fazemos parte de uma grande comédia que nos move num episódio teatral. Cada um tem seu epílogo: uns, no momento mais sublime e de maior sucesso, outros, desejosos de que o ato já tivesse se encerrado há muito tempo. A coisa boa disse tudo é que mesmo representando muito mal essa tragicomédia, nos tornamos uma celebridade no meio em que atuamos.
          Na juventude buscamos as técnicas de envelhecimento – aumentamos a idade na carteira de estudante para entrar nos cinemas e bailes, curtindo aquilo que julgamos ser um privilégio dos mais velhos. Fazemos – nós homens – a barba mesmo que não a tenhamos, na esperança de que ela cresça mais rápido. As meninas... bem, deixa isso pr’a lá. Com o passar do tempo achamos aqueles pêlos indesejáveis; diminuímos a idade para parecer experiente, mesmo tão jovem.
          As roupas, Ah!!! As roupas; tem mulheres que não percebem o ridículo que se tornam querendo parecer uma menininha, quando a pele dá sinais de isquemia.
          Se pudéssemos olhar quadro a quadro o desempenho de nossos atos – como um diretor sentado à frente do palco corrigindo cada palavra, cada figurino, cada gesto – nos tornaríamos melhores atores. Dessa forma, deixaríamos de reclamar uns dos outros e prestaríamos mais atenção em nós.
Já dizia o saudoso poeta: “o tempo não pára”. Verdade absoluta, até mesmo diante da teoria da relatividade. Fórmulas são produzidas em produtos que retardam o envelhecimento, até a pressuposta máquina do tempo – a utopia de todos nós – teimam em fazer-nos crer que é viável. Mas, o que realmente envelhece?
          Alguns anos atrás conheci uma jovem senhora com seus 65 anos de idade bem vividos. Sua conversa era atualíssima, o vestuário de muito bom gosto, capaz de causar inveja a “Gisele Bundchen” em seus 1,79 de altura. Bom gosto para música, decoração e a capacidade incrível de superar uma noitada dançando ou acampando com um grupo de adolescentes. Era inamovível no seu bom humor; alguns minutos de conversa e nem se perceberia a diferença de idades. Qualquer um se apaixonaria facilmente, pois, sua vivacidade e alegria podiam fazer com que o tempo não fosse convidado a permanecer.
          Dizem que o idoso só tem valor na hora de pagar um plano de saúde, já os objetos velhos são vistos como antiguidades e por isso valem muito. Objeto é antiguidade valorizada; ser humano é velho mesmo e inteiramente sem valor.
          O fato é que o idoso jamais terá o mesmo valor do que qualquer objeto considerado como antiguidade. Sendo que, enquanto que o ser humano quanto mais vive é considerado apenas um velho indesejado do qual, na maioria das vezes, todo mundo quer ficar livre. Mas o que realmente importa não é o tempo contado entre dias, meses e anos, mas sim, o tempo relativo derivado do produto da aceleração da mente em relação à idade corpórea “E=M.C.”.
          Eureka!!! Diria o cientista pelado correndo pelo meio da rua após uma grande descoberta. Quem poderá sustentar tal afirmação? Não somos todos nascidos numa tabela cronológica e o que nos difere são justamente as idas e vindas de nosso astro rei! Este sim, a grande celebridade do espaço visual permitido; seu desempenho é brilhante, nunca falha, mesmo que não o possamos ver, assim como o tempo que nunca pára; sujeito a ele estamos, pois, na sua ordem definida, marca as estações, os dias e as noites. Desta forma, é que o mundo se torna engraçado, pois enquanto um lado dorme, o outro está em plena atividade e isto no mesmo horário paradigmático.
          Estou extasiado; com toda essa troca de idéias; posso ter cem anos e a minha “E=M.C.”, ser igual à de um jovem adolescente, assim como, um jovem pode ter a mesma “E=M.C.” de um velho.
“subo neste palco, minha alma cheira a talco, como um bumbum de nenê”.
          É este o palco da vida: a cena não criada, a palavra não proferida, o sonho não sonhado, jamais se tornarão realidade na busca do espaço x tempo, pois, as câmeras não tiram os olhos de você. Um dia nos depararemos com o DVD – ou o que o venha substituir – de nossas ações e é possível que ele esteja em branco, quer dizer, em falta. Portanto, faça algo, mesmo que seja uma atuação medíocre, mas, tente, você consegue, afinal, não é fácil para ninguém, somente livres-se das cordas que o guiam, como no show do “n’sinc”; tome a pílula azul e seu mundo se tornará real como em “matrix”. Faça acontecer, pois, o tempo, este não espera. Mas, não acredite em ninguém com mais de trinta...
Por Paulo Figueiredo


                   Tempo

Oh! Tempo,
Há quanto tempo não tenho tempo para ti?
Trouxeste-me vida, a luz da minha vida,
a infância tão querida.
Trouxeste-me os anseios da juventude,
tão plena de amizade e saúde.
Trouxeste-me os anos dourados,
que impregnados de glamour e beleza
fizeram-me deixar-te de lado.

Oh! tempo,
não me deixes ir, sem antes sentir;
aquilo que há de mais bonito.
Já curvado pela idade e cansado de lutar
finalmente te encontrei,
mas, agora preciso partir,
para unir-me a ti
no infinito. 
Por Paulo Figueiredo 

MEU ÚLTIMO DESEJO

     A Velhice é como a inocência das crianças; o abraço descomprometido, o beijo puro do afeto sincero, o afago gostoso de um dia terminado.
     A impureza está nos olhos dos desesperados, dos mal amados, dos que não dormem para ouvir a conversa alheia.
     Sinceridade elogiosa dos corojasos, que não permitem ser feridos nos seus mais puros sentimentos. Viva os corajosas, viva aos que falam o que pensam, viva la vida louca...
     Senti vontade de ser criança novamente, de me atirar de peito aberto no desconhecido, desbravar a natureza virgem, explorando os caminhos do crescimento. De onde vem tanta ingenuidade sábia? tanta esperteza pura?
     O Tempo passado se constitui de células que decifram os pontos marcados na linha do tempo da vida. Só lembramos desses pontos se eles forem significativos. A impressão que se tem é que o tempo passa depressa ou devagar dependendo da quantidade de pontos demarcados nas lembrança positivas ou negativas de sua vida.
     Hoje tentei ser criança; não tendo medo de fazer uma pergunta embaraçosa, andando de bicicleta e lembrando das mãos que seguraram-me pela primeira vez; dos sinos de metais que soavam nas manhães de domingo. Hoje pensei em ser criança novamente me despindo para nadar num riacho de águas tranquilas, subindo em árvores na busca das frutas primaveris; dos dentes de leão que gentilmente soprávamos nas tarde de verão.
     Hoje lembrei de voce.  Das marcas deixadas pela linha do tempo que não importam mais, elas mostram a sabedoria agora avaçada na ingenuidade pura.
     Gostei de voce, amei voce.... perdi voce..... mas só por um momento.
     O ciclo da vida continua, o tempo não pára, os que te detestam passam, suas opiniões não importam, o amor sempre ficará independente das marcas do tempo, porque ele está no coração, na mente e na alma.
    Viva la vida louca, viva as linhas desenhadas que o tempo deixou em seu corpo. me abrace na mais pura inocência e me deixe novamente ser criança.

Por Paulo Figueiredo

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

AINDA ACREDITO NO SER HUMANO!

   AINDA ACREDITO NO SER  HUMANO!
 

- Pai, tô com fome!!!


Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:

     O pai, Agenor , sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência....

- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!!!

     Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria a sua frente...

Ao entrar dirige-se a um homem no balcão:

- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome, não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada encontrei, eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar!!!

   Amaro, o dono da padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho...

Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo...

Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua...

Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá....

Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada...

A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades...

Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:

- Ô Maria!!! Sua comida deve estar muito ruim... Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato?!?!

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer...

Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho...

Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas...

Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório...

Agenor conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos 'biscates aqui e acolá', mas que há 2 meses não recebia nada...

Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na padaria. Sentindo empatia, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias...

Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho...

Ao chegar em casa com toda aquela 'fartura', Agenor é um novo homem sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso...

Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores...

No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho...

Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia por que estava ajudando...

Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa...

E, ele não se enganou - durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres...

Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar...

Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula...

Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro...

Ao meio dia ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o 'antigo funcionário' tão elegante em seu primeiro terno...

Mais dez anos se passaram, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço...

Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho , o agora nutricionista Ricardo Baptista...

Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um...

Contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido...

Ricardinho , o filho mandou gravar na frente da 'Casa do Caminho', que seu pai fundou com tanto carinho:
'Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço.. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma.. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!!!'
Autor desconhecido, com acrescimo por Paulo Figueiredo

segunda-feira, 18 de julho de 2011

TÚNEL DO TEMPO

                              TÚNEL DO TEMPO

Enquanto assistia a um programa de televisão, numa TV turbinada de 14 polegadas, sobre a língua portuguesa e as culturas desses países num leito de hospital; percebi que eu era fruto dos enlatados americanos. Sem compreender por que sentia uma revolução dentro de mim, lembrava-me dos tempos de criança:
 - National Kid lutando contra os Incas Venuzianos, - Auika!
 - Superman com seu pega rapaz voando da janela.
 - O cheiro do hot-dog geneal do Maracanã.
Nascido nos Estados Unidos do Brasil sonhava com a minha terra natal: a extinta Guanabara da bandeira dos golfinhos;
- Cadê os golfinhos da baía ou será Bahia, já não sei mais, o que fizeram?
- Onde estava eu quando meu cérebro era abduzido!
- Em que momento fui clonado no sexto dia?
Lembro-me da frigider com um pinguim em cima dela, da telefunken, nossa primeira televisão a cores que na verdade não era a cores, possuía um sistema revolucionário de tela colorida que deixava o branco azulado.  Lembrava das brincadeiras de infância: a rua cheia ao entardecer, disputávamos quem seria o grande chefe, ninguém queria ser a carniça.
- Cemitério pegou fogo, alguém gritou!
Aquele bando de crianças correndo para a primeira bica que se conhecia para encher as burras d’água e cuspir nos pés da carniça.
- Unha de gavião, eu dou ninguém dá...
Que delícia eram as tardes louras dos tempos de criança. Rodar pneu, bola de gude:
- Marraio, companha, bi companha... olha o rapa!...

- Como assim?
- O que você quer dizer?
- Hoje não tem crianças nas ruas?
- O que fizeram ou não fizeram; não fazem mais filhos hahahahaha, 
- O que?
- abduzidos?
- Herodes está de volta?
- Não! pior?
- As crianças, o que?
- Estão na rede?
- LCD! Xbox! Nintendo!  O que é isso?  Uma variação do LSD. X-man, não entendo....
Os jogos e as brincadeiras agora são via rede de computadores,
- Cruz credo, parece piada. As gatinhas namoram por msm, Orkut, FACEBOOK o que é isso?
- Ah! Tá! uma pandemia mundial, não deixam as pessoas saírem nas ruas para não se contaminar; eu sabia que isso ia acontecer, os filmes de Flash Gordon já falavam sobre essa época....
Lembro-me dos passeios de aero-willians, rural, zinca, que fazíamos; não tinham cinto de segurança, era uma diversão só, pular por cima dos bancos... e do Galaxi que meu pai possuía com as indas e vindas da churrascaria Schiavini na Dutra aonde íamos todos os domingos para almoçar.
- Menina não vá para a barra com seu namorado lá é deserto e perigoso. Lugar abandonado pelo tempo, quem diria o que aconteceu com ela.  
Esse mundo está louco.
- Cultura Brasileira? Língua brasileira? Sandy e Junior? temos representação na ONU? 
- Nosso país não sofreu com a queda da economia americana? Um sindicalista Presidente da Republica? Uma mulher presidente da República?
-  Moçinha em que ano estamos? ....
- Não!!! um Presidente Americano negro? uauuuu
- Pior? o Zagalo está cotado para ser técnico da Seleção para 2014.
- Nãooooooooo, não, Isso é demais me tira o tubo de oxigênio que não suporto viver num mundo com tantas mentiras na televisão...
Por Paulo Figueiredo

sábado, 16 de julho de 2011

A ÚLTIMA LÁGRIMA

        São 2 horas da madrugada; estou aqui acordado ao som do Bread, na voz melódica de David Gates lembrando do passado. Lindos momentos que infelizmente não voltam mais; e você que está do outro lado desta tela a me ouvir com seus olhos, tentando imaginar porque escrevo estas coisas.
        Por que não consigo dormir? ...
        Se por um momento pudesse fechar os olhos e imaginar-te a meu lado;... você que um dia me fez sentir o perfume do amor. Desejei que o tempo parasse, só para olhar teu sorriso eternamente.
        Se por um momento atravessasse a camada tênua que nos separa agora, poderia sentir o suave dom da tua voz novamente. Não me deixe te esquecer. Por onde andar, meu coração estará tão perto como doces nuvens que atravesso quando penso em ti. Nunca te esquecerei, minha lembrança é tão vívida desde que nasci. Você me deu seu melhor sorriso, me afagou em seus braços, me cobriu de beijos e ternura; como posso me esquecer logo de voce; que me acudiu quando caí, que torceu por mim quando saí de casa pela primeira vez para estudar, que esteve presente em todos os momentos do meu aprendizado. Queria ter tido tempo de te apresentar a meus filhos, sei que iria amá-los como amou a mim; mas voce partiu antes que eu pudesse ser um homem. Hoje vivo das lembranças que me deixastes.  Sei que te encontrarei um dia para  abraçar-te com aquele abraço que não pude dar, olhar em teus olhos e colher a última lágrima.
Por Paulo Figueiredo
       
       De longe veio uma sombra
e o leite quente não mais estava sobre a mesa.
O cântico do Uirapuã não mais se ouviu,
apenas um choro e um nó amargo no peito.
      Quando o vento batia de encontro às janelas,
Trazia a saudade de velhos tempos,
Onde está você?
Por Paulo Figueiredo

terça-feira, 12 de julho de 2011

UM HOMEM CHAMADO VITOR

                                                 VITOR 

          Esse texto é um relato verídico de um homem que vamos chamá-lo de Vitor.
          Depois de meses sem encontrar trabalho, Vitor viu-se obrigado a recorre à mendicância para sobreviver, coisa que o entristecia e envergonhava muito.
          Numa noite fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um clube social próximo de Brasília, quando viu um casal chegar num belo carro e vestidos para uma noite muito inspiradora. Vitor aproximando-se deles pediu algum trocado para poder comprar algo para comer. – fazia dias que não comia nada quente para afagar o frio da noite que lhe feria a alma.
          -   sinto muito, amigo, mas não tenho trocados – disse o homem. Sua esposa, ouvindo a conversa perguntou:
          -   que queria o pobre homem?
          - dinheiro para comer. Disse que tinha fome – respondeu o marido.
          - Lorenzo! Não podemos entrar aqui, participar dessa festa com tanta fartura da qual não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora! Exclamou à senhora.
          - hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que quer dinheiro para encher a cara ou usar drogas!
          - tenho algum dinheiro comigo, vou dar-lhe alguma coisa!
          Mesmo de costa para eles, Vitor ouvia a tudo que diziam. Envergonhado, queria se afastar depressa daquele lugar, mas neste momento ouviu a amável voz da mulher que dizia:
          - meu bom homem, tem aqui algum dinheiro. Não precisa se envergonhar, você não é diferente só porque hoje precisa pedir para comer, você é um filho de Deus e em algum lugar existe um trabalho para você. Espero que o encontre.
          - obrigado senhora. Acaba de me fazer sentir melhor e capaz de começar novamente. A senhora me ajudou a recobrar o ânimo! Jamais esquecerei sua gentileza.
          - somente compartilhe com mais alguém que encontrar pelo caminho desse que posso chamar de “o pão da vida” – disse ela com um largo sorriso dirigindo mais a um homem do que a um mendigo.
          Vitor sentiu como se uma descarga elétrica lhe percorresse o corpo. Encontrou um lugar barato para se alimentar um pouco. Gastou a metade do que havia ganhado e resolveu guardar o que sobrara para o outro dia. Comeria o “pão da vida” por dois dias. Uma vez mais aquela descarga elétrica corria por seu interior.
          - um momento! Exclamou, não posso guarda isto somente para mim. Parecia-lhe escutar a melodia de um velho hino que tinha aprendido quando criança. Neste momento, passou a seu lado um velhinho.
          - quem sabe este pobre homem tenha fome, pensou – tenho que partilhar o que aquela senhora tão gentilmente me havia dado.
          - ouça! Exclamou Vitor dirigindo-se ao velho homem.
          - Gostaria de entrar e comer uma boa comida quentinha?   O velho se voltou e encarou-o sem acreditar.
          - você fala sério, amigo? O homem não acreditava em tamanha sorte, até que estivesse sentado em uma mesa coberta, com uma toalha e com um belo prato de comida quente na sua frente.
          Durante a ceia, Vitor notou que o homem envolvia um pedaço de pão com carne em sua sacola de papel.
          - está guardando um pouco para amanhã? Perguntou
          - não, não. É que tem um menino que conheço onde costumo dormir que estava passando mal e com muita fome, vou levar-lhe este pão.
“o pão da vida”! Recordou novamente as palavras da mulher e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa. Ao longe os sinos da Igreja pareciam entoar novamente a melodia do velho hino de infância. Os dois homens levantaram-se e caminharam até o local onde o menino se encontrava. Lá chegando partilharam do pão com ele, que o comeu com muita alegria. Ao largo passava também um cachorrinho bem tratado mas que parecia perdido, o menino chamando-o partilhou de parte de seu pão com ele. O “pão da vida” havia alcançado até a um pobre animal.
          - Até outro dia disse Vitor ao velho e se despediu. O cachorro acompanhou Vitor pela noite, ao brincar com ele, percebeu que o animal tinha uma coleira com um endereço gravado nela. O Local era bem distante dali, percebera que o cão tinha um dono e um lar e estava perdido, resolveu levá-lo até seu dono, assim que amanhecesse. Havia passando aquela noite junto com o animal. Ao chegar no local indicado, depois de uma tarde inteira de caminhada, bateu a porta; um senhor a abriu e logo reconheceu o cão, que latia como se também o tivesse reconhecido. O homem estranhou as roupas rasgadas do mendigo e imaginava que o havia roubado e agora estava devolvendo para receber ganhar algum dinheiro.
          - você veio atrás da recompensa?  disse o homem.
          - que recompensa?
          - Minha filha ficara doente com seu sumiço, e eu coloquei uma recompensa no jornal para quem o encontrasse, sou um empresário e não suportava ver minha filha doente.      
          - Espere que vou lhe pagar, afinal você o trouxe de volta.
          - não posso aceitar. Disse Vitor ao homem, que olhou para ele espantado não acreditando nas suas intenções.
          - somente queria que retornasse a seu dono, pois me fizera companhia numa noite muita fria, mas ele tinha um lar para onde voltar. O Homem surpreso com a resposta de Vitor e se compadecendo daquela pobre alma disse:
          - posso fazer algo pelo senhor! Vitor já não se sentindo um mendigo, disse: - gostaria de conseguir um trabalho, se puder me dar algo para fazer, serei inteiramente grato.
          - venha ao meu escritório amanhã bem cedo; com certeza terei algo para uma pessoa íntegra como você. Ao despedir-se deu-lhe uma peça de roupa, um par de sapatos e algum dinheiro, pedindo que o aceitasse como parte do adiantamento para que pudesse fazer a barba tomar um bom banho e dormir uma noite numa hospedaria.
          Ao voltar pela avenida, com o semblante da senhora que o havia ajudado, agora não mais somente lembrará a melodia do hino que ouvira em sua infância, mas cantava com alegria. “Partilhe o pão da vida, não o canseis de dar, mas não dês as sobras, daí com o coração, mesmo que doa.”  
Autor desconhecido - atualizado por Paulo Figueiredo               

                   Sinos de Metal

Sonhos lindos de criança
feito areia no portão
Sopra o vento, e a ribanceira
vão de encontro ao portão.
          Ai! Ai! De mim
          vou rever a solidão
          Ah! Olhos chorosos
          vão rolar as lágrimas.
Onde estiver meu coração
só vai levar saudades
dos sinos de metal
que soam na cidade
          Cresce em mim a esperança
          com a força das badaladas
          dos sinos de metal  
          que soam na cidade
E a força nasceu
do profundo silêncio
dos corações sofredores e
não da alegria.
Por Paulo Figueiredo