segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A vida Envelhecedo

Sonhei um sonho
tendo o tempo já terminado
Um tempo quando a esperança existia
E a vida ainda valia a pena ser cantada
                   Sonhei que esse amor
                   Nunca morreria
                   Que eu era jovem e destemido
                   E que Deus perdoaria
Quando os sonhos foram feitos,
Usados e desperdiçados
Nao houve canção não cantada
Nem resgate a ser pago
                   Mas as sombras vêm à noite
                   Com voz suave como trovão
                   eles despedaçam sua esperança
                   e seus sonhos sem compaixão
Mas há sonhos que não podem ser sonhados
E tempestades que não podem ser previstas
Mas mesmo assim
Sonhei que eles vinham até mim
                   Eu tive um sonho que minha vida seria
                   Tão diferente daquilo que pensei
                   Que envelheceriamos os anos juntos
                   E agora a vida matou o sonho que sonhei.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

BRICADEIRA DE CRIANÇA É COISA SÉRIA!

Vamos falar de coisa séria: brincadeira de criança. É verdade que se fosse nos dias de hoje muitas dessas brincadeiras seriam taxadas como bulling e crime contra a infância e a adolescência. Alguém duvida disso? Mas falando sério, alguém discorda que essas brincadeiras no fundo tinham a intenção de transformar meninos em Homens e meninas em Mulheres? Que elas faziam com que as crianças e jovens atingissem seu potencial e descobrissem ali sua real vocação para serem líderes. Vamos falar, por exemplo, da Brincadeira chamada de “Pular Carniça”. Em geral ela era a última das noites quentes e estreladas que brincávamos, por razões óbvias... Ela começava em geral definindo as posições de liderança do grupo, quem participasse, dava sua palavra de honra, nada comum hoje em dia, de que aceitaria numa boa toda a brincadeira como homem, isso já resumia muita coisa. Na formação do caráter naquela tenra idade já era algo maravilhoso, senso de responsabilidade e código de conduta, ninguém iria chorando para casa falar com os pais. Traçava-se uma linha no chão. Havia juízes para definir se o salto foi correto dentro da linha e o que saltasse mais distante seria o líder, o segundo o vice-líder, o terceiro como terceiro em comando, isso me lembra de algo..., e assim por diante até o último que seria a carniça. Sobrava sempre para o mais fraco, mais gordo e menor do grupo, daí o sentido de bulling. Havia também uma certa ética, o líder na sua parcela de comando sempre aliviava a barra dos mais fracos e os protegia de excesso de abusos. Ditava as regras e com voz de comando controlava o grupo. O sonho de todos era fazer o líder virar carniça e a esperança da carniça se virar contra o líder, sonho de toda carniça, quando isso acontecia todos se vingavam, o Dr. Ciro Darlan iria adorar ver isso... Mas, vamos lá. Já no começo da brincadeira, estimulava-se o desenvolvimento físico, quantos Joãos do pulo poderiam ter começado aí? E os juízes o que dizer deles, eram corretos, se o salto queimasse teriam que repetir, na terceira tentativa eram desclassificados. Regras básicas que permanecem até hoje e muita responsabilidade para crianças pequenas. A postura de liderança, cada um dentro do seu nível de comando dava sentido a vida moderna que teríamos quando fossemos adultos, na competição da vida, do mercado de trabalho. Isso nos ajudou a respeitar cada um na sua posição, sabendo quem mandava e ditava as regras e a reação que teríamos para com os que estivessem abaixo de nós. O respeito existia até que o líder começava a exagerar em poder e comando. Criava-se aí uma disputa de que você poderia obter o seu posto através de medidas legais, se esforçando para ser melhor, ter melhores ideias até conquistar o apoio do grupo e tirar o líder que começava a se exacerbar em seus poderes, esperando seu erro. Qualquer semelhança com a vida profissional é mera coincidência. Mas vamos voltar a falar do gordo, desculpem o bulling, quer dizer carniça. Todo o grupo ficava em volta da carniça que ficava em pé com o corpo dobrado com mãos no joelho ficando suas costas como uma mesa, onde as tarefas eram executadas. O líder ditava a tarefa, existiam algumas tarefas predefinidas e o líder era o responsável por escolher qual seria executada, assim transcorria uma após outra, quem errasse virava a carniça, muitos se rodiziavam como carniça. Para que você não se tornasse a carniça teria que estar sempre atento à voz de comando e executar cada tarefa com perfeição, teria que ser prático, ágil e controlado para não ser pego nas artimanhas criada pelo líder. Dessa forma desenvolvíamos raciocínio lógico, percepção de sentidos e um instinto natural a cada participação, talentos necessários para vencer na vida profissional, pessoal e amorosa... Deixe citar algumas dessas tarefas: A frase básica de todas as opções era manjar, manjar, manjar e então o líder ditava a tarefa. - Manjar, manjar, manjar eu dou e ninguém dá. Ele toca nas costas da carniça com a mão e quem encostasse a mão junto com ele, errava e se tornava a nova carniça. - Manjar, manjar, manjar eu dou e todo munda dá. O último a bater na carniça, sobrava. - Manjar, manjar, manjar unha de gavião. Todo mundo beliscava as costas da carniça. - Manjar, manjar, manjar, chute em gol. Todo mundo chutava a carniça. Nessa altura a carniça resistia bravamente, pois tinha que ser homem suficiente para aguentar, se desistisse, ficaria marcado como bebê chorão. Não me admira as mães perguntarem umas para as outras se os filhos delas também teriam pegado alguma alergia pelo corpo... O código do silêncio e honra imperava: ninguém delatava ninguém, sistema apreendido no regime militar, que estávamos acostumados a ouvir nas conversas dos mais velhos e nos noticiários da TV. E a brincadeira continuava. A carniça doida para dar a volta por cima e descontar tudo nos outros e quem conseguisse controlar seus impulsos, não ter raiva, tenderia a ser um grande homem na vida, superando as dores sem reclamar e quando estive por cima da carne seca... Ser compassivo, ponderado e a exercer o perdão. Nesse momento os meninos viravam homens de verdade. Não havia somente atividades sobre a carniça, existiam outras que eram executadas por toda a rua. - Manjar, manjar, manjar bombeirinho quer água. – A esse comando todos corriam para a bica de água mais próxima e enchiam as burras de água na boca e corriam de volta de volta até a carniça e cuspiam todas àquela água nos pés da carniça. O último como sempre virava a carniça. - Manjar, manjar, manjar passada de Getúlio. – muito óbvio. Época da ditadura. Nessa brincadeira que era chamada também de corredor Polonês e em geral era a última da noite, pois se sobrevivesse após ela não teria muito que fazer. Enfileiravam-se em duas colunas todos os jovens de um lado e do outro. A carniça tinha que passar correndo no meio de todos que lascavam e desciam suas mãos e punhos sobre ela. Essa parte da brincadeira era sempre solicitada pelo líder quando o antigo e perverso líder virava a carniça, para dar a sensação a todos que estariam aliviados de seus castigos durante a noite em que ele comandou as brincadeiras. Essa hora era crucial, e não deixavam a carniça escapar, desistir, ou pedir arrego. E lá vinha a carniça, tomava uma grande distância e corria com todas as suas pernas, chegava a ser mais veloz que o Usain Bolt, era a única forma de não ser atingido pelos socos e ganhar pequenos hematomas. Era o momento maior da noite. Não havia desistência, carimbava-se ali o passaporte para a idade adulta para ser respeitado pelos outros como homem. Outras atividades desenvolviam o espirito olímpico e criam verdadeiros atletas. - Manjar, Manjar, Manjar – Pular o Cristo Redentor. A carniça ficava de pé com os braços abertos, e todos tinham que pular por cima dela, se a carniça fosse alta maior a dificuldade. Mesmo sabendo que era um trabalho de Hércules a coragem precisava prevalecer e a tentativa não era uma opção. Uns caiam sobre a carniça, outros a atropelavam, e poucos conseguiam, mas valia à tentativa. A desistência tornava a pessoa um fraco e a cair em descredito junto ao grupo. - Manjar, Manjar, Manjar – Cemitério pegou fogo – A carniça se colocava em posição agachada e era pulada pelo líder que seguia na frente e fazia a mesma posição. Cada um em comando fazia o mesmo movimento, pulavam uns aos outros e seguiam adiante pela rua, quanto mais distante menor a distância que mantinham uns dos outros, ficávamos a espera do comando para voltar, a ansiedade ia tomando conta de todos, tínhamos que estar em posição de fuga rápida e preparados para um grande impulso para ganhar vantagem. A fila de Jovens agachados se estendia até o fim da rua; em determinado momento a carniça de costa, gritava: - Cemitério pegou fogo, era a voz faltante, todos se viravam e saiam em disparada até tocar na carniça, o último como sempre... Era glamoroso, um misto de esperteza e reflexo. Que talento, ninguém queria ser a carniça, qualquer treinador de esportes ficaria encantado com tantos velocistas. - Manjar, manjar, manjar – escrever cartinha para a namorada, fatiar a mortadela, pedal, espalha a brasa, Pular Carniça – Compararíamos a 400m com barreiras, pulávamos uns aos outros até a voz de comando. E a brincadeira continuava pela noite estrelada, pois ainda podíamos ver as estrelas. Gostaria de citar como essas brincadeiras eram importantes para nossa infância apesar de hoje serem tachadas como violentas ou discriminatórias. Todos os jovens que cresceram conosco participando dessas brincadeiras, hoje são homens formados. Éramos filhos de várias classes sociais, ricos, pobres, funcionários públicos, comerciantes etc. Pelos contatos até hoje, a amizade prevaleceu, nenhuma marca ou resquício ficou guardada. Nenhum maluco praticou de ato de atentado dando tiro a esmos em cinemas, parques e ruas, Todos se tornaram Homens com H maiúsculo como diria Mário Viana. Responsáveis por suas famílias, Atletas, Comerciantes, Funcionários públicos, médicos, escritores todos nos tornamos. Num desses momentos raros que aconteciam no passado de nossa aurora, um bandido entrou em nossa rua em um fusca, estávamos na calçada de casa com os amigos fazendo outras brincadeiras, quando a polícia veio atrás dele como nos dia de hoje dando tiros a esmos aos quais o bandido revidava. Num momento de instinto, impulso e coragem um desses jovens agarrou meu irmão menor e como num pulo jamais visto passou por cima do muro de minha casa com ele em seus braços. O muro media cerca de 1,65m de altura, foi um salto e tanto merecedor de uma medalha olímpica, salto frontal com um sobrepeso e sem deixar um só arranhão. Aplausos, um verdadeiro herói campeão. Não virou atleta, se bem que merecia, mas se tornou um grande ator de teatro. Bem, essa era a brincadeira de pular carniça, bem diferente das que são contadas nas fábulas e contos infantis, pouquíssimas coisas se assemelham, tudo por causa do código de ética entre seus participantes que como verdadeiros soldados, seguiam aos comandos dos líderes do grupo. Conforme crescíamos desejávamos subir no posto de comando e nos tornar o líder um dia, toda essa formação deu um toque em nosso caráter, nos transformando em homens de verdade, com coragem, determinação e esperança de mudar o mundo. Não tenho dados para comparar como se comportam as crianças de hoje em dia em suas brincadeiras, mas pelas quantidades de vitamina D, e problemas psicológicos, que algo está errado. O Homem sempre foi em toda a sua história sobre a terra um lutador, defensor de sua família, se tivesse que pegar em armas para defendê-la e a seu país, o faziam. O Amor era mais verdadeiro, a honra, a ética e sua conduta de integridade e coragem, eram símbolos de uma época que não existe mais. A violência não ensina ninguém, mas essas brincadeiras em nada tinham de violentas, eram todas de acordo com a aceitação e participação de cada indivíduo que a aceitava e mantinha desde jovem sua conduta e responsabilidade por seus atos. No dia seguinte o sol voltava a reinar absoluto na rua, outras brincadeiras eram feitas, soltar pipa, garrafão, amarelinha, pique, bola de gude, não havia revolta, rancores; prevalecia à amizade e a expectativa da chegada da noite para mais uma rodada de esperança de ter treinado mais, crescido mais para se tornar o grande líder. “Maraio”, “Companha”, “Tri-companha”, “olha o rapa”, essa é outra brincadeira, fica para outro artigo.

terça-feira, 22 de julho de 2014

MINHA RAINHA

Me Ame minha amada. na minha corte, por favor fique por perto; enquanto nosso reino estiveR subsistindo e os bravos cavaleiros estiverem lutando, fique bem junto ao meu lado e eu não temerei. Amarei você até o amanhecer; a ti darei todo meu amor. Lutarei em missões para salvá-la o amor mostrará o caminho a seguir. Minha amada! seus cabelos brilham no ar espalhando sua sombra sobre o mar. O Sofrimento contempla sua face, e de tolas palavras provem a graça. Conheço suas lutas e suas dores, sou seu cavaleiro de confiança. Você significa mais que uma rainha na minha pequena corte. Quando a vida abundante vier materializando a paz no mundo mostraremos nossa inocência adormecida no tempo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

RETRATOS DE JANE

RETRATOS DE JANE

          Desvirtuando a luz do sol no solitário despertar, sentia a brisa no meu rosto enquanto limpava meu corpo da areia molhada. Sem forças, ali sentado, imaginava como os povos nômades do deserto caminhavam dias para encontrar água que lhes dava a vida... meu pensamento foi interrompido por um vulto ao longe que se aproximava; ao chegar mais perto vi que era uma linda mulher, parecia um anjo em seu vestido transparente que deixava aparente sua silhueta. Sua estatura era alta e seu corpo, esbelto. A pele morena refletia o sol dos trópicos. Seus olhos azuis da cor do mar espalhavam a luz interior de sua alegria e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.
          Eu havia passado a noite inteira à procura de alguém para conversar. Estava de mal com o mundo, com a vida, não encontrava mais forças para continuar, havia desistido de tudo.
          Ela veio em minha direção e sentou-se ao meu lado, não sabia o que dizer; estava atônito com tanta beleza ao meu redor. Perguntou meu nome e falou da sua vida, da alegria que sentia pela vida. Durante horas, não sei precisar, conversamos sobre muitas coisas. Eu estava encantado, meus olhos penetravam através de seus lindos olhos azuis, meu coração palpitava, todos os meus sentimentos desanimadores haviam desaparecido. Era algo maravilhoso o que sentia ao ouvir sua voz mansa e delicada, como o murmúrio de ondas tranquilas que quebram na areia deixando uma seiva brilhante se dissipando com os raios de sol... não havia me dado conta das horas, o dia havia passado e ali estávamos nós, o universo se compadecendo, a natureza à nossa volta exalando seu perfume... De repente, ela levantando-se com singeleza correu na direção do mar, sem que eu conseguisse evitar, desapareceu em meio as ondas do mar. Fiquei perplexo!!! Tudo parecia mover-se lentamente à minha volta, não queria acreditar que a perdera. A escuridão da noite me envolveu como um rolo de fumaça, meu mundo havia desabado, meu coração estava sangrando... As ondas agora voltavam ao seu ritmo compassado, quebrado apenas pelo leve toque na areia que murmuravam seu nome: “Jane”.

          A luz do farol acendeu, a escuridão fora quebrada por um reflexo; não havia percebido, mas ela deixara cair algo, um cordão com uma medalha onde se lia uma data “21 de abril de 1945”.
          - O que seria isto? Que significava esta data? – Indaguei a mim mesmo.
          Quanto mais eu pensava, mais alucinado ficava; não conseguia esquecer aquele rosto, aquela voz...era bom demais para ser verdade...
          - Espere!!! Foi então que percebi que havia uma figura na outra face da medalha, um escudo com o nome de um clube de natação, eu não conhecia, mas ficara excitado só de pensar que poderia encontrá-la novamente. Entendia agora porque ela nadava tão bem; eu não me atreveria a encarar o mar naquela noite, as ondas estavam encapeladas.
          Deixei aquele lugar com esperanças renovadas, jamais encontrara alguém tão encantador. Conversara comigo sem me recriminar pelo meu modo de ver as coisas. Havia sim, mudado minha vida para melhor, acendido uma chama dentro de mim.
          Na manhã seguinte, voltei para casa, peguei o telefone e liguei para alguns amigos.  O tempo eterno enfim trouxe boas notícias, havia encontrado a informação que tanto procurava. Para minha surpresa, o clube ficava numa cidade distante de onde morava, mas, eu estava entusiasmado, meu desejo de vê-la novamente superaria qualquer obstáculo. Coloquei algumas roupas na mala e parti para a estrada. Não conseguia esconder a ansiedade, ao mesmo tempo, pensava que era apenas uma pista, poderia não conseguir encontrá-la. Eu não queria pensar nesta hipótese, de qualquer forma era tudo que tinha.
          Aqueles momentos que passamos juntos foram os mais incríveis de toda a minha vida.
          Depois de horas na estrada, cheguei a uma cidade no interior de Minas Gerais. Achar o clube foi tarefa fácil. Era uma medalha de competição, louvor ou qualquer coisa semelhante e estava um pouco embaçada e oxidada pelo tempo.
          Um pouco ofegante, cheguei ao clube, dirigi-me à secretaria onde imaginava ser o melhor local para começar minha investigação, sentia-me como Sherlock Holmes, tentando desvendar um grande mistério. Mostrei a medalha a mocinha do balcão que tão gentilmente me atendera, perguntei se ela já tinha visto e se realmente pertencia, ou melhor, fora feita por eles. Ela exitou um pouco, disse que era uma medalha muito bonita e parecia ser de ouro, mas nunca vira nada igual. Uma senhora idosa que aparentava cerca de 80 anos e estava ouvindo nossa conversa, aproximou-se e pediu para olhá-la. Ela abriu um sorriso e eu também; não sabia por que, mas algo me dizia que ela a reconhecera.
          - A senhora já viu uma igual? – perguntei;
          - Há muito tempo não vejo essa medalha – disse ela.
          - Esta medalha foi feita para a comemoração do centenário do clube e dada numa competição interna neste dia aos vencedores.  
          Eu estava encantado com a história, mas, desejava saber se ela realmente poderia me dar à informação sobre quem pertenceria. De repente ela tirou do peito um cordão com uma medalha igual, só que num tom prateado e disse:
          - Veja, esta medalha eu ganhei quando tinha 17 anos numa competição de natação em 1945. Cheguei em segundo lugar; até hoje sinto saudades e por pouco não a venci. Na época era tudo para mim; meu pai era o presidente do clube e ele fez estas medalhas especialmente para o evento, eu era a melhor nadadora da cidade, mas naquele dia surgiu uma jovem muito linda e...
          Antes que ela terminasse a história, eu a interrompi. Não era isso que eu queria saber. Mais uma vez eu perguntei sobre quem pertencia a medalha; na melhor das hipóteses, seria ela avó da pessoa que eu procurava, isso me deixava ainda mais ansioso.
          -Meu filho, como eu ia dizendo, naquele dia uma jovem muito linda apareceu para competir, seus olhos eram como o azul do mar – e que mais tarde viria a ser minha melhor amiga – acabou conquistando o primeiro lugar, e ganhou esta medalha...
          Interrompi novamente e indaguei: - por que seria aquela medalha e não outra?
          - Estas medalhas são únicas, não existem outras, foram feitas apenas três: de ouro, prata e bronze, para as ganhadoras da celebração do centenário. Foi uma competição que envolveu várias etapas e muitas nadadoras durante uma semana.
          Não pude deixar de exibir um sorriso de contentamento, minha primeira investigação e já estava na pista certa. A velha senhora com seus cabelos na cor púrpura, com sua voz cansada, mas suave, parecendo o murmúrio de um riacho de águas tranquilas correndo sobre uma ponte, me deixava cada vez mais assoberbado, mal podia esperar para revê-la e falar com ela novamente.
          - Seu nome era ”Jane” – completou a velha senhora.
          - “Jane” putz!!! – exclamei em alta voz, surpreso com o nome que ela acabara de falar, sem compreender sua entonação e o tempo do verbo que usara.
          - Diga-me onde posso encontrá-la? Gostaria de falar com ela. Conheci uma garota em Cabo Frio e ela deixou cair essa medalha quando foi embora. Eu só sei seu primeiro nome, Jane, e como a senhora disse, também tem os olhos azuis da cor do mar, acredito que deva ser uma neta ou parente dessa pessoa.
          Quando fiz este relato, a velha senhora foi tomada de grande espanto, suas pernas vacilaram naquele momento, amparando-a, pedi à mocinha que estava no balcão que buscasse uma cadeira e um copo d’água com açúcar para ela. Trêmula, sob o efeito ainda do susto, ela me olhou com olhos de ternura, pediu que a descrevesse e relatasse tudo que sabia sobre a tal moça. Sem compreender nada, pois a velha senhora me deixara a sensação de que algo estava errado; a pressa e a ansiedade já não importavam mais, o suspense e o drama tomavam conta do meu coração como nos filmes de Hitcock. Descrevi tudo que lembrava sobre nosso encontro, cada palavra, cada gesto, cada olhar... de repente lembrei de uma palavra à qual não dera muita importância, mas que agora diante do panorama que estava a se desenrolar, fazia algum sentido. Ela havia mencionado algo sobre um farol.
          - O que foi que você disse?  - interrompeu-me a velha senhora que a cada momento me deixava mais atemorizado.
          - Que ela havia mencionado sobre nadar sob a luz de um farol.
          Foi então que me dei conta de que o farol da praia do foguete em Cabo Frio estava desativado há anos. Naquele momento, eu só tinha olhos para ela e nem havia reparado neste fato. Como pude ver então o reflexo da medalha na areia quando a luz incidiu sobre ela? Como havia visto seu último aceno do mar pela luz do farol? Não deveria haver qualquer iluminação não natural naquela praia, eu conhecia aquela praia, era meu refúgio em dias de solidão. Muitas noites dormi sob a luz das estrelas, e essa era a única luz que havia. Mas eu tinha visto, sim, tinha visto o farol em funcionamento, como numa noite de tempestades, quando as embarcações buscam sua luz para se guiar e seguir em porto seguro.
          Agora tomado de pavor, temia pelo que viria a seguir. A Velha senhora colocou sua mão sobre a minha e com gesto de ternura como há muitos anos não sentira, disse-me:
          -Nós éramos muito amigas, eu e Jane. Ela desapareceu ainda muito jovem, quando tentava nadar numa noite em que o mar estava revolto. O corpo dela nunca foi encontrado, ela era muito corajosa, seu maior sonho era ver o oceano e nadar em mar aberto sob a luz de um farol, imaginava a beleza da luz incidindo sobre as águas e deixando a sensação de crepúsculo logo a seguir, era uma experiência que ela queria sentir, o doce e o amargo, a vida e a morte. Era apaixonada pelo mar, apesar da nossa cidade natal estar muito distante dele. Isto aconteceu logo após as competições, o sonho dela se realizaria. Viajamos sozinhas. Pela primeira vez havíamos saído de nossa cidade, fomos a Salvador e ficamos na casa de uns amigos de meu pai durante o verão de 1948. Ela nunca se casou, portanto a descrição que você fez é muito parecida com a dela. Eu nunca me conformei e nestes últimos momentos de minha longa vida tenho pensado muito nela e de como poderia ter evitado sua morte se ao menos tivesse a coragem de ter entrado no mar naquela noite...
          Neste momento eu apertava a mão da velha senhora que espantada e assustada, ficava cada vez mais pálida por tudo que estávamos conversando. O que eu realmente havia visto? Jane era real? Mas como poderia ser ela? Estava morta há mais de 50 anos; estivera ali comigo, havia me consolado, num momento de profunda depressão e sofrimento. Anda sinto seu perfume.
          Agora, havia caído em mim, me dera conta de que a única pessoa que me compreendera, não existia; mas, não poderia ser só a minha imaginação, a medalha estava lá para testificar esse momento. Juntei minhas lágrimas às da velha senhora e houve um silêncio profundo em nossos corações. Após alguns minutos ela levantou-se abruptamente como se tivesse lembrado de algo e levou-me a uma sala onde ficavam guardados, os troféus, as medalhas, as fotografias e recordações da história do clube. Revirou algumas gavetas e com um olhar de satisfação e amor fraternal levou a mão ao peito trazendo bem apertado uma fotografia. Lá estava ela, Jane, junto da velha senhora em fotos muito antigas, algumas em preto e branco. Era possível ver a beleza de seu olhar, eram realmente lindas, agora me referindo a velha senhora. Chorei ao ver as centenas de fotos que ela guardava naquela sala, desejei ter nascido em outra época. Daria tudo por uma máquina do tempo que me levasse ao encontro dela.
          Havia passado por uma grande experiência e uma grande lição de alguém que amava a vida e o mar.
          Depois de horas de conversa, emoções fortes, pavor, suspense e temor, tinha compreendido em parte a razão de tudo isso. Despedi-me da velha senhora, e sabia naquele momento que nos tornaríamos grandes amigos.
          - Ah! Mais uma coisa! – exclamei eu, num último esforço da memória.
          - Ela mencionou mais alguma coisa, que agora me vem a lembrança; que eu deveria devolver a Susan...
          quando olhei para a velha senhora, lágrimas escorriam pelo seu rosto cansado e sofrido; já sabendo a resposta, perguntei espantado:
          - Qual o seu nome?...........
Por Paulo Figueiredo


       No Borbulhar da bruma

Ondas seguem calmamente
como sombras na noite;
mal conseguem perceber seu destino
repetidamente se contentam
em acariciar a areia da praia.
A saudade aperta meu peito,
deitado na areia
no borbulhar da espuma
na bruma do mar.

sopra o vento,
a brisa forte
já cansada de chorar, me consola.
na caída da noite,
na contra mão
do vai e vem das marés,
já não sonho,
hoje faço
da solidão meu viver.
Por Paulo Figueiredo

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

HOJE, EU TIVE UM SONHO.

                     HOJE, EU TIVE UM SONHO.

          Hoje eu acordei com um sentimento de que o tempo havia passado. Tive um sonho muito bom, um sonho daqueles que nos faz sentir jovem ainda. Foi um sinal de que o tempo realmente passou. Quando você se sente saudoso de algo que não fez, algo que não viveu e percebe que dificilmente conseguirá realizar, sua mente envelheceu, seu coração perdeu a esperança e você se tornou um velho chato e rabugento, mesmo que só tenha “vinte e poucos anos”.
          A vida é muito engraçada, às vezes, penso que fazemos parte de uma grande comédia que nos move num episódio teatral. Cada um tem seu epílogo: uns, no momento mais sublime e de maior sucesso, outros, desejosos de que o ato já tivesse se encerrado há muito tempo. A coisa boa disse tudo é que mesmo representando muito mal essa tragicomédia, nos tornamos uma celebridade no meio em que atuamos.
          Na juventude buscamos as técnicas de envelhecimento – aumentamos a idade na carteira de estudante para entrar nos cinemas e bailes, curtindo aquilo que julgamos ser um privilégio dos mais velhos. Fazemos – nós homens – a barba mesmo que não a tenhamos, na esperança de que ela cresça mais rápido. As meninas... bem, deixa isso pr’a lá. Com o passar do tempo achamos aqueles pêlos indesejáveis; diminuímos a idade para parecer experiente, mesmo tão jovem.
          As roupas, Ah!!! As roupas; tem mulheres que não percebem o ridículo que se tornam querendo parecer uma menininha, quando a pele dá sinais de isquemia.
          Se pudéssemos olhar quadro a quadro o desempenho de nossos atos – como um diretor sentado à frente do palco corrigindo cada palavra, cada figurino, cada gesto – nos tornaríamos melhores atores. Dessa forma, deixaríamos de reclamar uns dos outros e prestaríamos mais atenção em nós.
Já dizia o saudoso poeta: “o tempo não pára”. Verdade absoluta, até mesmo diante da teoria da relatividade. Fórmulas são produzidas em produtos que retardam o envelhecimento, até a pressuposta máquina do tempo – a utopia de todos nós – teimam em fazer-nos crer que é viável. Mas, o que realmente envelhece?
          Alguns anos atrás conheci uma jovem senhora com seus 65 anos de idade bem vividos. Sua conversa era atualíssima, o vestuário de muito bom gosto, capaz de causar inveja a “Gisele Bundchen” em seus 1,79 de altura. Bom gosto para música, decoração e a capacidade incrível de superar uma noitada dançando ou acampando com um grupo de adolescentes. Era inamovível no seu bom humor; alguns minutos de conversa e nem se perceberia a diferença de idades. Qualquer um se apaixonaria facilmente, pois, sua vivacidade e alegria podiam fazer com que o tempo não fosse convidado a permanecer.
          Dizem que o idoso só tem valor na hora de pagar um plano de saúde, já os objetos velhos são vistos como antiguidades e por isso valem muito. Objeto é antiguidade valorizada; ser humano é velho mesmo e inteiramente sem valor.
          O fato é que o idoso jamais terá o mesmo valor do que qualquer objeto considerado como antiguidade. Sendo que, enquanto que o ser humano quanto mais vive é considerado apenas um velho indesejado do qual, na maioria das vezes, todo mundo quer ficar livre. Mas o que realmente importa não é o tempo contado entre dias, meses e anos, mas sim, o tempo relativo derivado do produto da aceleração da mente em relação à idade corpórea “E=M.C.”.
          Eureka!!! Diria o cientista pelado correndo pelo meio da rua após uma grande descoberta. Quem poderá sustentar tal afirmação? Não somos todos nascidos numa tabela cronológica e o que nos difere são justamente as idas e vindas de nosso astro rei! Este sim, a grande celebridade do espaço visual permitido; seu desempenho é brilhante, nunca falha, mesmo que não o possamos ver, assim como o tempo que nunca pára; sujeito a ele estamos, pois, na sua ordem definida, marca as estações, os dias e as noites. Desta forma, é que o mundo se torna engraçado, pois enquanto um lado dorme, o outro está em plena atividade e isto no mesmo horário paradigmático.
          Estou extasiado; com toda essa troca de idéias; posso ter cem anos e a minha “E=M.C.”, ser igual à de um jovem adolescente, assim como, um jovem pode ter a mesma “E=M.C.” de um velho.
“subo neste palco, minha alma cheira a talco, como um bumbum de nenê”.
          É este o palco da vida: a cena não criada, a palavra não proferida, o sonho não sonhado, jamais se tornarão realidade na busca do espaço x tempo, pois, as câmeras não tiram os olhos de você. Um dia nos depararemos com o DVD – ou o que o venha substituir – de nossas ações e é possível que ele esteja em branco, quer dizer, em falta. Portanto, faça algo, mesmo que seja uma atuação medíocre, mas, tente, você consegue, afinal, não é fácil para ninguém, somente livres-se das cordas que o guiam, como no show do “n’sinc”; tome a pílula azul e seu mundo se tornará real como em “matrix”. Faça acontecer, pois, o tempo, este não espera. Mas, não acredite em ninguém com mais de trinta...
Por Paulo Figueiredo


                   Tempo

Oh! Tempo,
Há quanto tempo não tenho tempo para ti?
Trouxeste-me vida, a luz da minha vida,
a infância tão querida.
Trouxeste-me os anseios da juventude,
tão plena de amizade e saúde.
Trouxeste-me os anos dourados,
que impregnados de glamour e beleza
fizeram-me deixar-te de lado.

Oh! tempo,
não me deixes ir, sem antes sentir;
aquilo que há de mais bonito.
Já curvado pela idade e cansado de lutar
finalmente te encontrei,
mas, agora preciso partir,
para unir-me a ti
no infinito. 
Por Paulo Figueiredo 

MEU ÚLTIMO DESEJO

     A Velhice é como a inocência das crianças; o abraço descomprometido, o beijo puro do afeto sincero, o afago gostoso de um dia terminado.
     A impureza está nos olhos dos desesperados, dos mal amados, dos que não dormem para ouvir a conversa alheia.
     Sinceridade elogiosa dos corojasos, que não permitem ser feridos nos seus mais puros sentimentos. Viva os corajosas, viva aos que falam o que pensam, viva la vida louca...
     Senti vontade de ser criança novamente, de me atirar de peito aberto no desconhecido, desbravar a natureza virgem, explorando os caminhos do crescimento. De onde vem tanta ingenuidade sábia? tanta esperteza pura?
     O Tempo passado se constitui de células que decifram os pontos marcados na linha do tempo da vida. Só lembramos desses pontos se eles forem significativos. A impressão que se tem é que o tempo passa depressa ou devagar dependendo da quantidade de pontos demarcados nas lembrança positivas ou negativas de sua vida.
     Hoje tentei ser criança; não tendo medo de fazer uma pergunta embaraçosa, andando de bicicleta e lembrando das mãos que seguraram-me pela primeira vez; dos sinos de metais que soavam nas manhães de domingo. Hoje pensei em ser criança novamente me despindo para nadar num riacho de águas tranquilas, subindo em árvores na busca das frutas primaveris; dos dentes de leão que gentilmente soprávamos nas tarde de verão.
     Hoje lembrei de voce.  Das marcas deixadas pela linha do tempo que não importam mais, elas mostram a sabedoria agora avaçada na ingenuidade pura.
     Gostei de voce, amei voce.... perdi voce..... mas só por um momento.
     O ciclo da vida continua, o tempo não pára, os que te detestam passam, suas opiniões não importam, o amor sempre ficará independente das marcas do tempo, porque ele está no coração, na mente e na alma.
    Viva la vida louca, viva as linhas desenhadas que o tempo deixou em seu corpo. me abrace na mais pura inocência e me deixe novamente ser criança.

Por Paulo Figueiredo

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

AINDA ACREDITO NO SER HUMANO!

   AINDA ACREDITO NO SER  HUMANO!
 

- Pai, tô com fome!!!


Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:

     O pai, Agenor , sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência....

- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!!!

     Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria a sua frente...

Ao entrar dirige-se a um homem no balcão:

- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome, não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada encontrei, eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar!!!

   Amaro, o dono da padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho...

Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo...

Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua...

Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá....

Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada...

A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades...

Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:

- Ô Maria!!! Sua comida deve estar muito ruim... Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato?!?!

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer...

Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho...

Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas...

Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório...

Agenor conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos 'biscates aqui e acolá', mas que há 2 meses não recebia nada...

Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na padaria. Sentindo empatia, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias...

Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho...

Ao chegar em casa com toda aquela 'fartura', Agenor é um novo homem sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso...

Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores...

No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho...

Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia por que estava ajudando...

Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa...

E, ele não se enganou - durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres...

Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar...

Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula...

Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro...

Ao meio dia ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o 'antigo funcionário' tão elegante em seu primeiro terno...

Mais dez anos se passaram, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço...

Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho , o agora nutricionista Ricardo Baptista...

Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um...

Contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido...

Ricardinho , o filho mandou gravar na frente da 'Casa do Caminho', que seu pai fundou com tanto carinho:
'Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço.. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma.. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!!!'
Autor desconhecido, com acrescimo por Paulo Figueiredo