segunda-feira, 28 de julho de 2014
BRICADEIRA DE CRIANÇA É COISA SÉRIA!
Vamos falar de coisa séria: brincadeira de criança. É verdade que se fosse nos dias de hoje muitas dessas brincadeiras seriam taxadas como bulling e crime contra a infância e a adolescência. Alguém duvida disso? Mas falando sério, alguém discorda que essas brincadeiras no fundo tinham a intenção de transformar meninos em Homens e meninas em Mulheres? Que elas faziam com que as crianças e jovens atingissem seu potencial e descobrissem ali sua real vocação para serem líderes.
Vamos falar, por exemplo, da Brincadeira chamada de “Pular Carniça”. Em geral ela era a última das noites quentes e estreladas que brincávamos, por razões óbvias...
Ela começava em geral definindo as posições de liderança do grupo, quem participasse, dava sua palavra de honra, nada comum hoje em dia, de que aceitaria numa boa toda a brincadeira como homem, isso já resumia muita coisa. Na formação do caráter naquela tenra idade já era algo maravilhoso, senso de responsabilidade e código de conduta, ninguém iria chorando para casa falar com os pais.
Traçava-se uma linha no chão. Havia juízes para definir se o salto foi correto dentro da linha e o que saltasse mais distante seria o líder, o segundo o vice-líder, o terceiro como terceiro em comando, isso me lembra de algo..., e assim por diante até o último que seria a carniça. Sobrava sempre para o mais fraco, mais gordo e menor do grupo, daí o sentido de bulling. Havia também uma certa ética, o líder na sua parcela de comando sempre aliviava a barra dos mais fracos e os protegia de excesso de abusos. Ditava as regras e com voz de comando controlava o grupo. O sonho de todos era fazer o líder virar carniça e a esperança da carniça se virar contra o líder, sonho de toda carniça, quando isso acontecia todos se vingavam, o Dr. Ciro Darlan iria adorar ver isso... Mas, vamos lá. Já no começo da brincadeira, estimulava-se o desenvolvimento físico, quantos Joãos do pulo poderiam ter começado aí? E os juízes o que dizer deles, eram corretos, se o salto queimasse teriam que repetir, na terceira tentativa eram desclassificados. Regras básicas que permanecem até hoje e muita responsabilidade para crianças pequenas.
A postura de liderança, cada um dentro do seu nível de comando dava sentido a vida moderna que teríamos quando fossemos adultos, na competição da vida, do mercado de trabalho. Isso nos ajudou a respeitar cada um na sua posição, sabendo quem mandava e ditava as regras e a reação que teríamos para com os que estivessem abaixo de nós.
O respeito existia até que o líder começava a exagerar em poder e comando. Criava-se aí uma disputa de que você poderia obter o seu posto através de medidas legais, se esforçando para ser melhor, ter melhores ideias até conquistar o apoio do grupo e tirar o líder que começava a se exacerbar em seus poderes, esperando seu erro. Qualquer semelhança com a vida profissional é mera coincidência.
Mas vamos voltar a falar do gordo, desculpem o bulling, quer dizer carniça. Todo o grupo ficava em volta da carniça que ficava em pé com o corpo dobrado com mãos no joelho ficando suas costas como uma mesa, onde as tarefas eram executadas. O líder ditava a tarefa, existiam algumas tarefas predefinidas e o líder era o responsável por escolher qual seria executada, assim transcorria uma após outra, quem errasse virava a carniça, muitos se rodiziavam como carniça. Para que você não se tornasse a carniça teria que estar sempre atento à voz de comando e executar cada tarefa com perfeição, teria que ser prático, ágil e controlado para não ser pego nas artimanhas criada pelo líder. Dessa forma desenvolvíamos raciocínio lógico, percepção de sentidos e um instinto natural a cada participação, talentos necessários para vencer na vida profissional, pessoal e amorosa...
Deixe citar algumas dessas tarefas:
A frase básica de todas as opções era manjar, manjar, manjar e então o líder ditava a tarefa.
- Manjar, manjar, manjar eu dou e ninguém dá. Ele toca nas costas da carniça com a mão e quem encostasse a mão junto com ele, errava e se tornava a nova carniça.
- Manjar, manjar, manjar eu dou e todo munda dá. O último a bater na carniça, sobrava.
- Manjar, manjar, manjar unha de gavião. Todo mundo beliscava as costas da carniça.
- Manjar, manjar, manjar, chute em gol. Todo mundo chutava a carniça. Nessa altura a carniça resistia bravamente, pois tinha que ser homem suficiente para aguentar, se desistisse, ficaria marcado como bebê chorão. Não me admira as mães perguntarem umas para as outras se os filhos delas também teriam pegado alguma alergia pelo corpo... O código do silêncio e honra imperava: ninguém delatava ninguém, sistema apreendido no regime militar, que estávamos acostumados a ouvir nas conversas dos mais velhos e nos noticiários da TV.
E a brincadeira continuava. A carniça doida para dar a volta por cima e descontar tudo nos outros e quem conseguisse controlar seus impulsos, não ter raiva, tenderia a ser um grande homem na vida, superando as dores sem reclamar e quando estive por cima da carne seca... Ser compassivo, ponderado e a exercer o perdão. Nesse momento os meninos viravam homens de verdade.
Não havia somente atividades sobre a carniça, existiam outras que eram executadas por toda a rua.
- Manjar, manjar, manjar bombeirinho quer água. – A esse comando todos corriam para a bica de água mais próxima e enchiam as burras de água na boca e corriam de volta de volta até a carniça e cuspiam todas àquela água nos pés da carniça. O último como sempre virava a carniça.
- Manjar, manjar, manjar passada de Getúlio. – muito óbvio. Época da ditadura. Nessa brincadeira que era chamada também de corredor Polonês e em geral era a última da noite, pois se sobrevivesse após ela não teria muito que fazer. Enfileiravam-se em duas colunas todos os jovens de um lado e do outro. A carniça tinha que passar correndo no meio de todos que lascavam e desciam suas mãos e punhos sobre ela. Essa parte da brincadeira era sempre solicitada pelo líder quando o antigo e perverso líder virava a carniça, para dar a sensação a todos que estariam aliviados de seus castigos durante a noite em que ele comandou as brincadeiras. Essa hora era crucial, e não deixavam a carniça escapar, desistir, ou pedir arrego. E lá vinha a carniça, tomava uma grande distância e corria com todas as suas pernas, chegava a ser mais veloz que o Usain Bolt, era a única forma de não ser atingido pelos socos e ganhar pequenos hematomas. Era o momento maior da noite. Não havia desistência, carimbava-se ali o passaporte para a idade adulta para ser respeitado pelos outros como homem.
Outras atividades desenvolviam o espirito olímpico e criam verdadeiros atletas.
- Manjar, Manjar, Manjar – Pular o Cristo Redentor. A carniça ficava de pé com os braços abertos, e todos tinham que pular por cima dela, se a carniça fosse alta maior a dificuldade. Mesmo sabendo que era um trabalho de Hércules a coragem precisava prevalecer e a tentativa não era uma opção. Uns caiam sobre a carniça, outros a atropelavam, e poucos conseguiam, mas valia à tentativa. A desistência tornava a pessoa um fraco e a cair em descredito junto ao grupo.
- Manjar, Manjar, Manjar – Cemitério pegou fogo – A carniça se colocava em posição agachada e era pulada pelo líder que seguia na frente e fazia a mesma posição. Cada um em comando fazia o mesmo movimento, pulavam uns aos outros e seguiam adiante pela rua, quanto mais distante menor a distância que mantinham uns dos outros, ficávamos a espera do comando para voltar, a ansiedade ia tomando conta de todos, tínhamos que estar em posição de fuga rápida e preparados para um grande impulso para ganhar vantagem. A fila de Jovens agachados se estendia até o fim da rua; em determinado momento a carniça de costa, gritava: - Cemitério pegou fogo, era a voz faltante, todos se viravam e saiam em disparada até tocar na carniça, o último como sempre... Era glamoroso, um misto de esperteza e reflexo. Que talento, ninguém queria ser a carniça, qualquer treinador de esportes ficaria encantado com tantos velocistas.
- Manjar, manjar, manjar – escrever cartinha para a namorada, fatiar a mortadela, pedal, espalha a brasa, Pular Carniça – Compararíamos a 400m com barreiras, pulávamos uns aos outros até a voz de comando. E a brincadeira continuava pela noite estrelada, pois ainda podíamos ver as estrelas.
Gostaria de citar como essas brincadeiras eram importantes para nossa infância apesar de hoje serem tachadas como violentas ou discriminatórias.
Todos os jovens que cresceram conosco participando dessas brincadeiras, hoje são homens formados. Éramos filhos de várias classes sociais, ricos, pobres, funcionários públicos, comerciantes etc. Pelos contatos até hoje, a amizade prevaleceu, nenhuma marca ou resquício ficou guardada. Nenhum maluco praticou de ato de atentado dando tiro a esmos em cinemas, parques e ruas, Todos se tornaram Homens com H maiúsculo como diria Mário Viana. Responsáveis por suas famílias, Atletas, Comerciantes, Funcionários públicos, médicos, escritores todos nos tornamos.
Num desses momentos raros que aconteciam no passado de nossa aurora, um bandido entrou em nossa rua em um fusca, estávamos na calçada de casa com os amigos fazendo outras brincadeiras, quando a polícia veio atrás dele como nos dia de hoje dando tiros a esmos aos quais o bandido revidava. Num momento de instinto, impulso e coragem um desses jovens agarrou meu irmão menor e como num pulo jamais visto passou por cima do muro de minha casa com ele em seus braços. O muro media cerca de 1,65m de altura, foi um salto e tanto merecedor de uma medalha olímpica, salto frontal com um sobrepeso e sem deixar um só arranhão. Aplausos, um verdadeiro herói campeão. Não virou atleta, se bem que merecia, mas se tornou um grande ator de teatro.
Bem, essa era a brincadeira de pular carniça, bem diferente das que são contadas nas fábulas e contos infantis, pouquíssimas coisas se assemelham, tudo por causa do código de ética entre seus participantes que como verdadeiros soldados, seguiam aos comandos dos líderes do grupo. Conforme crescíamos desejávamos subir no posto de comando e nos tornar o líder um dia, toda essa formação deu um toque em nosso caráter, nos transformando em homens de verdade, com coragem, determinação e esperança de mudar o mundo. Não tenho dados para comparar como se comportam as crianças de hoje em dia em suas brincadeiras, mas pelas quantidades de vitamina D, e problemas psicológicos, que algo está errado.
O Homem sempre foi em toda a sua história sobre a terra um lutador, defensor de sua família, se tivesse que pegar em armas para defendê-la e a seu país, o faziam. O Amor era mais verdadeiro, a honra, a ética e sua conduta de integridade e coragem, eram símbolos de uma época que não existe mais. A violência não ensina ninguém, mas essas brincadeiras em nada tinham de violentas, eram todas de acordo com a aceitação e participação de cada indivíduo que a aceitava e mantinha desde jovem sua conduta e responsabilidade por seus atos.
No dia seguinte o sol voltava a reinar absoluto na rua, outras brincadeiras eram feitas, soltar pipa, garrafão, amarelinha, pique, bola de gude, não havia revolta, rancores; prevalecia à amizade e a expectativa da chegada da noite para mais uma rodada de esperança de ter treinado mais, crescido mais para se tornar o grande líder. “Maraio”, “Companha”, “Tri-companha”, “olha o rapa”, essa é outra brincadeira, fica para outro artigo.
terça-feira, 22 de julho de 2014
MINHA RAINHA
Me Ame minha amada.
na minha corte, por favor fique por perto;
enquanto nosso reino estiveR subsistindo
e os bravos cavaleiros estiverem lutando,
fique bem junto ao meu lado
e eu não temerei.
Amarei você até o amanhecer;
a ti darei todo meu amor.
Lutarei em missões para salvá-la
o amor mostrará o caminho a seguir.
Minha amada! seus cabelos brilham no ar
espalhando sua sombra sobre o mar.
O Sofrimento contempla sua face,
e de tolas palavras provem a graça.
Conheço suas lutas e suas dores,
sou seu cavaleiro de confiança.
Você significa mais que uma rainha
na minha pequena corte.
Quando a vida abundante vier
materializando a paz no mundo
mostraremos nossa inocência
adormecida no tempo.
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